quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Lume - Leituras

Esta seção [em constante construção] é destinada a indicar leituras que de alguma forma se relacionam com a exposição. Estas, no entanto, não são delimitadoras e nem definem os trabalhos expostos. São prolongamentos e possibilidades de reflexão conjunta. Caso você deseje contribuir com alguma referência, é só indica-la em nos comentários.
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Mares e Campos - Virgílio Várzea
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Instâncias do Cinza, quase poemas, quase fotografias - Ricardo Kubrusly
(citado no comentário da artista nesta postagem)
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2 Comentários:

clarafernandes disse...

Indicar uma leitura para compreensão da mostra é um pouco arriscado.
A obra pretende ser aberta e, ocupando os interespaços provocar uma surpresa visual e sensorial acordando desta maneira novos focos de percepção para as pessoas que passam ou freqüentam o ambiente.
Em cada espaço que as teias interferem mostram outras linhas, dependendo dos pontos que ligam e sob este prisma indiquei o livro Mares e Campos de autoria de Virgilio Varzea (1865-1941) que me pareceu o roteiro de montagem para a interferência no centro histórico de Florianópolis.
Virgilio neste livro relata “quadros da vida rústica catarinense” e o recorte que me aproprio para esta instância é a itinerância a que os poetas, artistas, escritores (de todas as épocas) se submetem, entre as capitais, exterior e seus retornos ao Desterro, quando suas peculiaridades aparecem de maneira mais visível e até poética.
Interessante analisar os relatos descritivos da ilha que Vírgilio escreve no Rio ou em outras viagens comparando-os com os textos que escreveu na ilha.
E com este viés coloco o texto da entrada da mostra de autoria de Ricardo Kubrusly, poeta do Rio que o escreve na ilha , em 2006, descrevendo poeticamente este sentimento.

O texto tem as cores da vida
Há dias que penso, e sem ação me volto para dentro de mim, em ti
dentro de mim as cores passeiam sem me deixarem escolhê-las
a velocidade verga as paisagens e dobra o tempo as cores passam
e não me vêm e nem se deixam ver
são cores distraídas
quase dispersas, vazias, nenhumas
por fora de tudo e de dentro
nas bordas dos marrons
como se de uma mochila surrada
carregada por um deus desgovernado
descido de um trem de estrelas
das estrelas mais e mais distantes
na esfera dos desertos e seus brancos
brotassem fios invisíveis de seda transparente
e deles polvilhados
pontos de luz e luzes de todas as cores
dentro de mim as cores passeiam
meus olhos virados para fora nada percebem além do branco branco
branco de que somos feitos na cegueira dos dias
dentro de mim as cores passeiam
fora o silêncio branco dos meus atos sonha
um risco
um risco negro de destino e festa
prenhe de azuis e acontecimentos
a luz azul que lentamente nasce
dos infinitos fios espalhados
inventa a matéria e o movimento
e se destina verde em todos os arcos do espaço
e preenche as sombras alongando-se lentamente pelos ocos retorcidos
e a seda cobre por fim a paisagem desolada
onde a areia branca desértica ensolarada
se veste vermelho amarelada e cria o tempo
no balançar de seus pequenos grãos
ventados pelo balé das plantas invisíveis
dentro de mim, eu vi, as cores passeavam há muito tempo e meus olhos virados para fora nada notavam das florestas de todas as cores dos meus pensamentos. Meus olhos virados para fora não se davam conta dos riscos de seda que teciam, pacientemente, por trás dos acontecimentos, o que não fazia sentido, nas mil milhões de estrelas do infinito. Meus olhos virados para fora, cuspiam meus dedos de cores, nos movimentos distraídos que faziam. Meus olhos virados para fora, buscavam com mãos desesperadas os fios perdidos das cores, na seda que a borboleta guardara na espera do primeiro vôo.
Nada havia, enquanto meus olhos miravam a paisagem branca e branca do deserto desolada. Eu vi, eu estava lá, quando a primeira borboleta, ainda sem se saber, fundiu-se à areia incandescente. Eu vi a floresta de cores ressurgente, as vozes na escada improvável dos desenhos sem sentido, o eco do burburinho dos seus comentários, o barulhar dos primeiros riachos, a água a água na sua cor surpresa brotando das areias mais azulandinhas. Eu estava lá, no meio dos acontecimentos e o manto denso da mais pura seda cobriu a areia branca e branca com as cores da noite. As estrelas que ao longe resmungavam eram gente, de todo tamanho e destino, nas cores do desassossego. Eu vi, eu estava lá, antes dos acontecimentos, tudo era gente, antes das invenções das cores, quando o branco era o tudo de areia e sol sem brincadeiras. Eu vi, teci no poema a primeira seda transparente. Meus olhos virados para fora coloriam o mundo com meus pensamentos. Eu vi.

Ricardo Kubrusly, Instâncias do Cinza, quase poemas, quase fotografias, Florianópolis 2006

Projeto Arte e Público disse...

É importante que as leituras aqui indicadas não sejam vistas como "necessidades" para o entendimento do trabalho e sim como relações possíveis que acabam se tramando "a patir" do trabalho.
Clara, agradecemos muito as suas indicações.
Ainda percorrendo mares e campos...

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