quarta-feira, 29 de julho de 2009

Walmor Corrêa | Biografia

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"O meu primeiro contato com o universo da arte aconteceu na escola, durante as aulas de Biologia. Como tinha, de uma lado, muito carinho e curiosidade pelos animais e, de outro, desenhava tudo o que via e estudava em sala de aula, um professor de Ciências me convidou a ajudá-lo nas aulas de laboratório. Foi também esse professor que me apresentou o trabalho de Leonardo da Vinci, fazendo-me perceber, pela primeira vez, o desenho como manifestação artística. No laboratório, eu acompanhava o processo de dissecação de animais para, na sequência, desenhar-lhes a anatomia interna. Lembro-me bem do fascínio que aquele ambiente me suscitava e, se comecei falando dessa experiência, é porque me parece que foi ela, de forma embrionária, que alinhavou o meu futuro como artista.

Em 1989, um momento particularmente significativo: em viagem à Europa, tive oportunidade de observar o trabalho de alguns artistas viajantes dos séculos XVIII e XIX. Dez anos depois, em 1999, outra situação marcante: conheci parte da Floresta Amazônica, descortinando algumas espécies de sua flora e fauna. Esses dois contatos foram definitivos para mim. De um lado, eles me remetiam ao período de juventude e ao cotidiano de silêncio e morte junto ao laboratório de Ciências; de outro, fortaleciam o meu trabalho como artista, já calcado nos instigantes cruzamentos entre arte e ciência, realidade e ficção.

Questionando as minhas impressões sobre a natureza, a evolução e inúmeras possibilidades de criação que a arte oferece, resolvi dar forma aos meus próprios seres. Comecei criando pequenos insetos, atribuindo-lhes não somente uma morfologia especial, como é comum no meio. Desenhados sobre tela e coloridos suavemente, esses insetos também foram fixados ao suporte por meio de alfinetes e apresentados em um móvel entomológico, de acordo com a tradição dos museus de História Natural. Chamei esse trabalho de Catalogações/Coleções.

Na sequência, refletindo oniricamente sobre os postulados da Teoria Evolucionista, criei os Dioramas, rementendo, mais uma vez, aos museus de História Natural. Nesses ambientes, os animais aparecem empalhados e dispostos em um cenário que imita o seu habitat natural, propondo um recorte de sua existência no mundo. No meu caso, eliminei esse cenário, colocando os seres contra um fundo branco, como é característico dos desenhos taxionômicos. Diante desses trabalhos, o espectador mais distraído certamente vai reconhecer galinhas, coelhos e macacos. Entretanto, observando com um pouco mais de atenção, ele perceberá que todos os animais ali representados são, na realidade, invenções, mistos de aves com peixes, de mamíferos com répteis. Animais de existência improvável, a não ser na imaginação.

O conjunto dos Dioramas se desdobrou na série Apêndices (Catalogações), na qual criei possibilidades de existência para os meus híbridos, embora essas também fossem fictícias e fantasiosas. Analisei alguns desses animais individualmente, descrevendo não apenas suas curiosas anatomias, como relatando, por meio de texto, seus hábitos alimentares, suas rotas migratórias, seus métodos de acasalamento. Tudo imaginado. E como acreditava que figuras tão bizarras exigiriam esqueletos igualmente diferenciados, dediquei-me à estrutura óssea de alguns espécimes.

Os trabalhos dessas duas séries, Apêndices (Catalogações) e Esqueletos, foram apresentados, em sala especial, na 26ª Bienal Internacional de Artes de São Paulo, em 2004. Naquela ocasião, pude acompanhar com muito interesse e curiosidade os vários debates suscitados pelas imagens, principalmente entre o público de crianças e adolescentes. E uma das perguntas mais discutidas era: Afinal, aqueles animais poderiam existir?

Acredito que esse tipo de questionamento acaba apontando certos limites da Ciência, bem como o aspecto ilimitado das Artes Visuais. E, jogando com esses dois campos e como querendo justificar a existência de seres do imaginário popular, realizei o conjunto de cinco pinturas da série Unheimlich. O termo unheimlich designa, segundo Sigmund Freud, o que é estranhamente familiar. Assim, apropriei-me de seres oriundos da cultura folclórica brasileira, todos híbridos de humanos com animais, e realizei uma dissecação imaginária. Na verdade, eu quis mostrar como, anatomicamente, aqueles seres seriam possíveis. Afinal, há dezenas de registros escritos e verbais de pessoas que afirmam já terem visto a Ondina (sereia), o Ipupiara, o Curupira, o Capelobo ou a Cachorra da Palmeira. Então, se há esses testemunhos, por que tais seres não existiriam? A minha brincadeira foi de, ao realizar essa dissecação, apontar como determinados órgãos funcionariam, permitindo a vida dessas criaturas. Para isso, realizei pesquisas e entrevistas com médicos, e inseri, na parte textual do trabalho, essas informações. Imagem e texto, portanto, balizam o meu discurso.

Em 2007, mantendo as mesmas reflexões, realizei a instalação Memento Mori, apresentada em dois momentos: no Instituto Goethe, em Porto Alegre (2007), e na Galeria Laura Marsiaj, no Rio de Janeiro (2008). Nesse trabalho, numa alusão ao limite tênue entre a vida e a morte, dei forma escultórica aos meus híbridos, todos mistos de pássaros com as mais variadas, inusitadas e sutis conformações. Partindo de esqueletos reais de aves mortas em laboratório de universidades, dei forma tridimensional a seres que antes estavam apenas em minha imaginação. E coloquei-os a dançar, fixados a máquinas de caixas de música, num estranhamento proposital entre a rudeza do esqueleto e de tudo a que ele remete e a suavidade e frescor da música. Esse trabalho foi agraciado com dois importantes prêmios Açorianos, concedidos pela Prefeitura de Porto Alegre: Melhor Exposição e Artista do Ano (2008)Desde 2008, venho me dedicando a projetos especiais, como Salamanca do Jarau - Uma Visão Pessoal, que realizei junto à Fundação Can Xalant, em Mataró, cidade próxima a Barcelona. Atualmente, além de finalizar a pesquisa iniciada na Espanha, preparo trabalho que apresentei até o final de 2009, mesclando, uma vez mais, o universo da arte, da ciência e o imaginário dos artistas viajantes, tema que tanto me fascina e que, por meio da minha poética e de forma contemporânea, busco discutir e atualizar." [Walmor Corrêa]

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